terça-feira, 22 de março de 2011

UM MUNDO MAIS COMPLEXO - Celso Ming (Estadão)

UM MUNDO MAIS COMPLEXO - Celso Ming (Estadão)

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, parece tomado por uma crise de identidade.
Assumiu seu ministério prometendo defender ferrenhamente os interesses da empresa nacional. Nem completou três meses de administração e já confessa, como confessou aos empresários paulistas nesta segunda-feira, que já não sabe mais o que é para ser defendido: “Temos dificuldades para definir o que é indústria nacional”, afirmou, em São Paulo.
É natural que assim seja. Nem mesmo a brasileiríssima jabuticaba, tão citada, pode ser reconhecida como produto genuinamente nacional, porque há notícias de que o Paraguai e a Bolívia também a produzem. Em todo o caso, o ministro do Desenvolvimento parece surpreendido com os efeitos de uma economia cada vez mais globalizada.
Pimentel entendeu que, em seu posto, deveria agir com rigor para defender o produto nacional contra a predação provocada pelo produto importado, e logo percebeu que o produto nacional é em grande parte elaborado com peças e componentes importados.
A indústria automobilística, por exemplo, gostaria de importar peças sem taxa aduaneira, mas, com isso, prejudica a indústria de autopeças. O setor têxtil, por sua vez, quer, algo genericamente, proteção ao produto acabado e liberação comercial da matéria-prima. Mas fica difícil colocar o princípio em prática. Como a fibra é matéria-prima da indústria de fiação; o fio, matéria-prima da indústria de tecelagem; e o tecido, matéria-prima da indústria de confecção, fica mesmo difícil entender o que é para ter importações liberadas e o que precisa de defesa comercial.
O presidente americano, Barack Obama, não tem a mesma dificuldade agora enfrentada por Pimentel. Nessa visita ao Brasil, ele não alardeou que estava empenhado em defender a empresa americana. Seu objetivo, avisou ele, é defender o emprego nos Estados Unidos (jobs). Ele não está lá para defender os interesses da General Motors, da Ford, da GE, da Dupont ou da Procter & Gamble, que tanto estão nos Estados Unidos como estão na China, no Brasil e em toda parte. Ele está lá para aumentar o emprego nos Estados Unidos.
O mundo ficou mais complexo, a economia está ainda mais e já não é tão simples executar uma política de defesa da indústria nacional. De todo modo, a melhor maneira de defender empregos e a atividade econômica no País é garantir condições de competitividade ao setor produtivo no Brasil.
Ao contrário do que disse Pimentel nesta segunda-feira, a principal tarefa não consiste em definir o que seja indústria nacional. A missão que realmente importa é diminuir o custo Brasil para que toda a atividade econômica, não importando o controle do seu capital, seja competitiva no País.
E reduzir custos é reduzir a carga tributária, desonerar encargos sociais, baixar os juros, fazer as reformas e dotar o Brasil de uma infraestrutura rápida, funcional e barata.
Esse objetivo é ainda mais premente agora, quando já não é mais possível, como era antes, compensar custos elevados de produção com um câmbio desvalorizado, artifício que barateava o industrializado no Brasil e encarecia o importado, mas pouco fazia para dar competitividade ao produto brasileiro.

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