sábado, 5 de março de 2011

SÉTIMO PIB NO MUNDO - Ralph Hofmann

SÉTIMO PIB NO MUNDO

Ralph J. Hofmann

No seu show e disco “Eu sou o espetáculo” da década de 60 o comediante José de Vasconcelos subitamente dizia uma só frase que após alguns instantes causava frouxos de riso na platéia. Era algo como: “Radio PRk5 transmitindo em Onda Medias da cidade de Jacaré das Várzeas para o MUNDO.”.

Acho que indiretamente foi este conto que despertou uma ojeriza pela jactância, por contar vantagem. Trabalhei para várias empresas que diziam ser “maior do Brasil”, “maior da América do Sul”, “maior das Américas” ou até “quarta maior do mundo”. Todas tiveram desgostos após usar estes slogans.

O poeta americano Stephen Vincent Benét tem o conto um menino que vai crescendo, estudando, passando a trabalhar, casando, sendo pai de filhos e chegando à idade vetusta. Quando menino sempre que ele ficava saliente e jactava de alguma coisa a avó lhe dizia. Não chames a atenção do “fool killer’, do “matador de idiotas”“. Ao longo da vida adolescente, jovem, adulto e velho ele sempre se lembra da admoestação sempre que algum triunfo surge em sua vida e se sente tentado a contar vantagem. No fim da vida ele esta sentado na varanda, plenamente realizado e ouve os passos do “fool killer" chegando e considera que já é tempo de deixar o mesmo alcançá-lo, que chegou a vez de deixar as coisas acontecer.

Aqui no Brasil houve um par de anos em que nosso PIB cresceu violentamente. Estávamos no “Milagre Brasileiro” do Delfim Neto, década de sessenta. Realmente, nossa aposta na soja virara uma fonte de reservas, nossa metalurgia e mineração cresciam, por conta dos triunfos no campo, nossa produção e venda de equipamentos aumentava. Mas nossa inflação era alta ainda, e o crescimento do PIB não era tão alto assim. Subitamente, e por quase dois anos as bolsas brasileiras estouraram. Os resultados eram astronômicos. Na realidade faltavam ações para atender as pessoas que desejavam entrar na bolsa. Uma manhã alguns corretores começaram a comprar e vender ações da firma MERPOSA. Foi a grande ação do dia. Atingiu um crescimento incrível. Finalmente alguém perguntou: “Mas o que e a MERPOSA? “. Não existia, era uma blague. Correspondia a Merda em Pó S.A.

Evidentemente um dia esta bolha terminou e os investidores menos safos perderam seus pé de meias. Contudo com base no volume de operações da bolsa nosso PIB foi às alturas naquele ano. No mesmo ano nossa inflação foi de 13%, depois de anos por volta de 25%. Os observadores mais críticos diziam que houvera uma manipulação. A inflação deveria ser de no mínimo 18%. Uma das medidas usadas pelo governo para mascarar a inflação foi fingir que o petróleo não havia aumentado 110% nos últimos meses do ano. A crise (do primeiro e segundo choques do petróleo) ficou para o próximo governo.

Naqueles anos (1972-3) andávamos de cabeça erguida, o Brasil era tudo, descobrira a pedra filosofal. Nossa economia seria uma das maiores em poucos anos. Divulgávamos isto aos sete ventos. Na realidade levou quase 25 anos para que chegasse a colocar em ordem nosso galinheiro e passamos por níveis de inflação incríveis e PIBs negativos igualmente acachapantes.

É por isto que, ao ver em letras enormes a primeira página dos jornais ostentando a chamada “Brasil será sétimo PIB do mundo este ano diz Mantega” não consigo sentir qualquer entusiasmo. No ano passado o governo estimulou o endividamento do consumidor para criar volume de vendas, e, portanto PIB. Com isto forçou ao máximo a capacidade de produção e estimulou ao máximo certas importações. Além disto facilitou transferências de recursos para a campanha política, o que não deixa de ser um aumento de atividade econômica.

Por isto mesmo neste ano o governo se obriga a restringir gastos e restringir crédito, pois houve efeitos inflacionários por vários motivos, alta demanda, falta de estrutura e excesso de moeda no sistema. Todas essas estimuladas pelo ministério de Mantega mesmo ante tentativas de controle, no tocante à moeda, pelo Banco Central.

Prever 7% de crescimento do PIB ou sermos o 7º. PIB no mundo este ano, mesmo com o preço das commodities brasileiras nas alturas parece-me arriscado. A China vai ter problemas e seguir exportando nos níveis atuais. Se tiver vai reduzir compras, se reduzir compras estaremos sentados em cima de supersafras, em cima de minério, etc.

Se eu fosse Mantega estaria com o ouvido bem afiado para ver se o “fool killer “ não está se aproximando.

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