domingo, 27 de fevereiro de 2011

MOACYR SCLIAR - Ralph Hofmann

MOACYR SCLIAR

Ralph J. Hofmann

Enquanto escrevo esta crônica Moacyr Scliar está sendo velado em um salão da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Lembro do primeiro conto de Moacyr que li. Era numa coletânea de jovens escritores do Rio Grande do Sul. “Os Nove do Sul”. Moacyr, em fim de curso de medicina escreveu “Pequena História de um Pequeno Cadáver”. Neste conto ele lembrava do cadáver que dissecou nas aulas de anatomia do primeiro ano, uma mulher de baixa estatura. A mulher-cadáver falava com ele. Se considerava professora dos alunos que a dissecavam. Praticamente instava para que nela aprendessem bem, aproveitassem bem para que fossem bons profissionais no futuro. Contava algo de seu passado.

Idealista escolheu uma especialidade que jamais enriqueceu ninguém. Praticou saúde pública até se aposentar. O escrever para ele era compulsão, não vaidade. Não podia deixar de escrever, mesmo com tempo exíguo entre a medicina, esposa e filhos.

Não entrarei no mérito da sua obra. Pessoalmente gostei de muitos de seus escritos e achei outros menos palatáveis, mas acho que poucos imortais fizeram mais para disseminar a idéia da cultura ao alcance de todos do que Moacyr Scliar.

Corria o Brasil e o mundo contando o ambiente na casa relativamente humilde de sua mãe no bairro do Bomfim em Porto Alegre, onde podiam fazer economia de muitas coisas, mas nunca de aceso a livros.

Esforçava-se por convencer qualquer jovem que o quisesse escutar a ler, ler onivoramente, ler de tudo que cativasse a atenção desde literatura séria até romances de capa e espada. Tudo contribuiria para uma capacidade de enxergar o mundo.

Além disto, convidado manifestava-se sobre os grandes desafios do fim do século XX e início do século XXI, sem tomar a si um manto de profeta.

Descansou um grande homem que tinha o mérito da discrição.

Um comentário:

  1. Sem Educação de Verdade e o Saber Ler povo brasileiro continuará a ser alienado e manada pronta para o abate.
    Homens de valor vão embora desta terra mas deixam um legado de ensinamentos que deverão ser aprendidos e utilizados para sempre.

    Marisa Cruz

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